Por Laís Muniz

Hoje, os corretores de seguros respondem por 85% da produção do mercado segurador brasileiro, mas nem sempre foi assim. Houve um tempo em que a profissão não fazia parte do imaginário social da população e a penetração dos produtos desse setor, que ainda hoje ainda é pequena diante do seu enorme potencial, era irrisória. Nessa época, datada do ano de 1968 - há exatos 50 anos -, nasceu a Federação Nacional dos Corretores de Seguros (Fenacor), com o objetivo de defender os interesses desses profissionais em âmbito nacional.
Alguns acontecimentos ajudam a entender o contexto em que a entidade foi criada. Quatro anos antes, em 1964, a regulamentação da profissão corretor de seguros pela Lei Nº 4.594 marcava uma conquista decisiva para o fortalecimento da categoria, que passou a ser a única autorizada à venda de seguros. Em seguida, o Decreto 56/903 incluiria na lista os corretores especializados em Vida e Capitalização, determinando a sua inscrição junto ao Departamento Nacional de Seguros e Capitalização, órgão regulador que antecedeu a Superintendência de Seguros Privados (Susep).
A reforma bancária em vigor no país em 1965, porém, respingou nas seguradoras. Classificadas como “investidoras institucionais” pela a Lei 4.595, de dezembro, elas poderiam passar de empresas comerciais para financeiras, o que abalaria a atuação dos corretores – eles temiam que os bancos dominassem a venda de seguros.
Já em 1966, o Decreto 73/66 tornou obrigatória a comissão de corretagem na comercialização do seguro. Ou seja: reconheceu como necessárias a consultoria e a assessoria no momento de contratar um produto tão técnico. A medida foi importante para a categoria, mas também para a população, já que assegurou a devida proteção ao consumidor.
Entre ameaças e avanços, ficava clara a urgência de uma entidade representativa de maior peso, que fosse capaz de unir as forças dos Sindicatos de cada estado. Foi assim que as associações do Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina fundaram a Fenacor, no dia 25 de outubro de 1968.
De acordo com dados do portal Tudo Sobre Seguros, ainda no final da década de 60, três sinistros quase quebraram o mercado: incêndios que destruíram a TV Paulista, a fábrica de biscoitos Marilu e a fábrica da Volkswagen, em São Bernardo, São Paulo. Isso chamou a atenção das autoridades para a necessidade de fortalecer as seguradoras. Houve, então, uma série de fusões e aquisições incentivadas pelo governo, que reduziu o número de seguradoras de 176, em 1970, para 97, em 1974.
“Nessa época, o mercado era insignificante no contexto da economia nacional. Hoje, sabemos que isso não é mais realidade: muito pelo contrário”, comemora o presidente licenciado da Fenacor, Armando Vergilio. Até agosto deste ano, o mercado de seguros brasileiro movimentou mais de R$ 160 milhões em prêmios, isso sem contar com o ramo de Saúde Suplementar, segundo dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).
De lá para cá, a Fenacor já teve oito presidentes e incentivou a criação de entidades representativas em cada estado. “A grande capilaridade que a categoria amealhou gradualmente exigiu a criação de entidades que ficassem mais próximas, com a devida compreensão das necessidades dos profissionais de cada região”, explica o executivo.
Em 1975, conquistou o reconhecimento como entidade coordenadora dos interesses da categoria econômica dos Corretores de Seguros e de Capitalização, conforme Carta Sindical de 21 de março de 1975, do Ministério do Trabalho e Emprego. Atualmente, representa, judicial e extrajudicialmente, 25 Sindicatos estaduais e 74 Delegacias, prestando assistência técnica e jurídica aos seus filiados. “É por meio desses Sindicatos que a Fenacor cumpre sua missão de proporcionar a integração dos corretores de seguros na busca pela qualificação profissional e pela ética no exercício de sua função. Atuamos na defesa de seus direitos e criamos mecanismos para melhorar e ampliar o mercado de seguros no Brasil”, garante o presidente licenciado da entidade.
Essa é a finalidade básica da Federação: proteger e defender os interesses da categoria econômica que representa perante as entidades privadas e as autoridades públicas, além de colaborar com os poderes públicos no estudo e na solução dos problemas relacionados a ela. “Estamos falando de cerca de 95 mil corretores de seguros registrados na Susep, sendo aproximadamente 60 mil pessoas físicas e 35 mil pessoas jurídicas”, diz Vergilio.
O início da contabilização desses profissionais também permeia a história da Fenacor. Apenas em 1989 foi que o órgão regulador começou a coletar esses dados, por meio do recadastramento dos corretores.
Por coincidência ou não, neste ano em que a Federação completa 50 anos, houve um novo processo de recadastramento, que contou com o apoio do Instituto Brasileiro de Autorregulação do Mercado de Corretagem de Seguros, de Resseguros, de Capitalização e de Previdência Complementar Aberta (Ibracor), criado em 2012, tendo a Fenacor como uma das fundadoras e mantenedoras. A composição de uma entidade autorreguladora para o mercado de corretagem de seguros foi mais um passo na direção da manutenção das boas práticas entre os corretores e demais profissionais do setor.
Com o Código Civil instituído em 2003, o corretor ganhou ainda mais espaço e importância, com sete artigos (do 722 ao 729) dedicados à sua atuação. No ano seguinte, outra importante vitória que contou com intenso apoio da Federação foi a inclusão, em 2014, do profissional de corretagem de seguros no Simples Nacional. A Lei Complementar 147/14 reduziu em até 40% a carga tributária sobre 450 mil pequenas e médias empresas de diversos setores da economia, inclusive as corretoras. Graças à mudança, os corretores de seguros passaram a contar com uma categoria própria no sistema, tendo sido enquadrados na tabela III, considerada a mais favorável.
A conquista chegou após luta de mais de uma década: desde 2011, por exemplo, o então deputado federal Armando Vergilio havia apresentado projeto de lei para incluir esses profissionais no SuperSimples e, posteriormente, presidiu a comissão especial da Câmara na qual a proposta foi analisada e ajustada, sendo determinante para sua aprovação. “Sempre coloquei essa questão como a razão do meu mandato”, afirmou.
O que está por vir...
Nos tempos atuais, com a crise econômica pelo qual o país passa e, na outra ponta, um grande desenvolvimento tecnológico chegando ao setor sem bater na porta, o principal desafio apontado pelo presidente licenciado da Fenacor é entregar ao cliente uma proposta de valor mais tangível. “Um bom negócio depende agora de pensar no que o consumidor precisa, e não propriamente no que o corretor quer vender. Ainda há muito para ser explorado no Brasil, mas é preciso estar atento às mudanças de comportamento das pessoas, entender o perfil e o sonho dos novos consumidores e as tendências do mercado”, avalia Vergilio.
Segundo ele, sempre haverá para onde avançar na relação com o segurado. Na classe C, por exemplo, está diagnosticado que 19% das pessoas estão dispostas a adquirir um imóvel nos próximos anos. “Eis aí um campo a se subsidiar com o seguro residencial e seus derivados”, sugere.
O executivo ressalta que é preciso interagir com o cliente também. “O novo consumidor é multicanal, ele em algumas vezes deseja comprar por WhatsApp, não quer mais ligar e falar. O corretor de seguros precisa estar preparado para assistir seus clientes via e-mail, redes sociais, blogs, sites, SMS e mensageiros eletrônicos. Ele tem que expandir seus pontos de contato com o segurado”, lista.
O presidente licenciado da Fenacor, Armando Vergilio, concorda: ele diz que a tecnologia não será capaz de substituir o serviço prestado pelos corretores de seguros, no entanto, a categoria deve refletir sobre a necessidade de ousar e inovar. Para ele, faltam soluções arrojadas.
Para os próximos 50 anos, ele tem as melhores expectativas. Apenas para começar, Vergilio acredita que o mercado reúne todas as condições para “dobrar de tamanho” dentro de 10 anos. E os negócios do corretor de seguros podem crescer no mesmo ritmo. “Só depende do próprio corretor. Mas, o que ele tem hoje, não perde”, garante. O potencial estaria no incremento de diferentes carteiras de seguros.
“Mesmo que canais alternativos absorvam boa parte desses novos consumidores, ainda restará uma parcela significativa para o corretor profissional. São milhões de pessoas que ainda não têm seguro”, frisou, lembrando que há também milhões de bens patrimoniais, como imóveis e veículos, que não contam com cobertura securitária.
Conquistas ao longo dos anos
1964: Regulamentação da profissão do corretor de seguros pela Lei Nº 4.594
1966: Decreto 73/66 trona a comissão de corretagem obrigatória
1968: Fundação da Fenacor
2003: Novo Código Civil tem 7 artigos dedicados ao corretor
2012: Criação do Ibracor, órgão de autorregulação da categoria
2014: Inclusão do corretor de seguros no SuperSimples
A comemoração

Para celebrar esses 50 anos de história, a Fenacor promoveu, no tradicional hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, um grande evento. Cerca de 350 profissionais de todo o país, entre presidentes e executivos das maiores seguradoras do Brasil, dos Sindicatos dos Corretores de Seguros (Sincors), da Susep e outras entidades do setor.
Ao saudar os convidados, o presidente licenciado da Fenacor, Armando Vergílio, acentuou que a história da Fenacor, que representa 25 sindicatos e quase 100 mil corretores de seguros, “é um registro de uma verdadeira crônica positiva de dedicação ao país, ao longo de sua própria existência”.
Um dos momentos mais marcantes da noite foi o lançamento do livro “Fenacor 50 anos”, que narra fatos e conquistas históricas da federação e dos corretores de seguros. A federação também lançou, em parceria com os Correios, um selo personalizado.
Os ex-presidentes da federação, Paulo Gynner, Roberto Barbosa e Octávio Milliet foram, ainda, homenageados por sua atuação à frente da instituição.
Além deles, foram reconhecidas empresas e entidades do mercado que têm relação de longa data com a Fenacor: SulAmérica Seguros, Porto Seguros, Bradesco Seguro, Escola Nacional de Seguros e Confederação das Seguradoras (CNseg).
Logo depois, foram agraciados com a comenda de mérito do cinquentenário da Fenacor os presidentes do Sincor-GO, deputado federal Lucas Vergílio (representando todos os presidentes dos Sincors); do Conselho da SulAmérica, Patrick Larragoiti; e do Conselho do Banco Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi; o ex-presidente da CNseg, João Elísio Ferraz; e o superintendente da Susep, Joaquim Mendanha de Ataídes.